terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Itaú Cultural

Lisboa, Murilo (1953)

Outros Nomes: Murilo Lisboa, Murilo A. Lima Lisboa, Murilo de Andrade Lima Lisboa

Biografia

Murilo de Andrade Lima Lisboa (Recife PE 1953). Pintor. Realiza seus primeiros trabalhos

em 1967, quando começa a freqüentar o ateliê do pintor Di Grazzia. Entre os anos de 1974 e

1976, viaja pela Europa, estudando arqueologia e história da arte na Universidade de

Toulouse-Le Mirail, França, restauração na Universidade da Polônia, Polônia, e

etruscologia na Universidade de Perugia, Itália. Em 1979, muda-se para Parati, Rio de

Janeiro, cidade onde monta seu ateliê.

Nascimento

1953 - Recife PE

Formação

1967 - Santos SP - Freqüenta o ateliê do pintor Di Grazzia

1974 - Toulouse-Le Mirail (França) - Estuda arqueologia e história da arte na Universidade

de Toulouse-Le Mirail

1975 - Varsóvia (Polônia) - Cursa restauração na Universidade da Polônia

1976 - Perugia (Itália) - Cursa etruscologia na Universidade de Perugia

Cronologia

Pintor

1967/1974 - Santos SP - Vive nessa cidade

1975 - Alemanha - Viaja para esse país a estudos

1978 - Guarujá SP - Vive nessa cidade

1979 - Parati RJ - Vive nessa cidade

1979 - Parati RJ - Monta seu ateliê de pintura

Exposições Individuais

1967 - Santos SP - Individual, na Galeria Prego de Ouro

1981 - Piracicaba SP - Individual, no Salão do Teatro Municipal

Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais

1981 - São Paulo SP - Individual de inauguração da Calunga Loja de Arte

1982 - Parati RJ - Individual, na Secretaria Municipal de Cultura

1982 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria da Flumitur

1982 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Paulo Prado

Fontes de Pesquisa

MURILO Lisboa. Apresentação de José Roberto Aguilar. São Paulo: Galeria Paulo Prado,

1982.

Exposições Coletivas

1971 - Santos SP - 1º Salão de Arte Jovem do CCBEU - Prêmio Ermirio Bozzo Inc.

1972 - Santos SP - 2º Salão de Arte Jovem

1972 - São Paulo SP - Salão da Fundação Anchieta

1973 - Santos SP - 3º Salão de Arte Jovem

1973 - São Paulo SP - Salão da Fundação Anchieta

1980 - Parati RJ - 1º Encontro de Artistas Plásticos de Parati

1981 - Angra dos Reis RJ - 1º Encontro de Artistas Plásticos

1981 - Parati RJ - 2º Encontro de Artistas Plásticos de Parati

1981 - Parati RJ - Coletiva de inauguração do Centro Cultural, na antiga cadeia da Cidade

1981 - Parati RJ - Coletiva, no Forte Defensor Perpétuo

1981 - Piracicaba SP - 14º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, na Casa das Artes

Plásticas Miguel Dutra

1981 - Piracicaba SP - Salão do Teatro Municipal

1982 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva da Flumitur, no Rio Palace Hotel

Textos críticos

"Murilo Lisboa ... solenemente para a política das artes (plásticas). Ele é um ´loner´. Um

´out-sider´. Sua pintura também é como ele. ´Out of fashion´, fora de moda. Ele não tem

diálogo com as correntes internacionais que andam por aí, ele não tem diálogo com as

correntes nacionais, porra, ele não tem diálogo nem com as correntes locais. (...) Murilo não

sai um centímetro de seu caminho. Não que ele seja inflexível e duro. Ele nem sabe que ele

não sai um centímetro de seu caminho. Ele nem pretende mudar o panorama das artes

brasileiras como alguns quixotescos pintores pretendem tipo Aquilar e Granato ou melhorar

Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais

a reflexologia sobre a própria arte, como Baravelli, ou propor desafios estéticos como o

mágico Rex Wesley. Aliás ele não pretende nada. (Graças a Deus). Ele nem conhece esses

caras. Murilo é Murilo com o Lisboa depois".

José Roberto Aguilar

MURILO Lisboa. Apresentação de José Roberto Aguiar. São Paulo: Galeria Paulo Prado, 1982.

E
Os últimos dez anos da vida de Murilo de Andrade Lima Lisboa, que se formou em arqueologia, aventurou-se nas artes plásticas e teve bar, foram dedicados aos livros.

Ao lado da mulher, Paula, o recifense tocava a Beca, editora de obras científicas.
Na capital de Pernambuco, Murilo morou até os 13 anos. A família se mudou para Santos por causa dos negócios do pai, químico e empresário.
Após passar dois anos no litoral paulista, transferiu-se para a capital do Estado. Nos anos 70, foi para a Europa.
Estudou arqueologia e história da arte na Universidade de Toulouse-Le Mirail, na França. Também fez cursos de restauração na Polônia e de etruscologia (estudo da cultura etrusca) na Itália.
De volta em 1979, estabeleceu-se em Parati, no Rio, onde montou um ateliê. Pintava paisagens marinhas inspiradas no local onde vivia. Era descrito como um outsider, que não seguia correntes.
Deixou de lado a pintura para ser dono de bar. No Bixiga, em São Paulo, teve o Snooker 138, uma casa de sinuca com paredes de vidro. Um filho seu segue na área.
Uma década atrás, assumiu a editora, antes pertencente aos pais se sua mulher.
Era um homem alegre e brincalhão, como conta a família. Todas as terças e quintas, remava na USP e tinha como hobby restaurar barcos.

mail Fernando

Obrigado, Paulo, por me repassar o texto da Anginha.

Que lindo texto.

Eu começo sem saber o que dizer, você sintetizou o não-sintetizável, a enorme latitude de pensamento, ação e coração que foi o Murilo:
Era um ser bio-geo-zoo-arquio-histo-poli-meteo-socio-lingui-astro-artista-editor-arqui-enge-intele-velejador-remador-construtor- jardineiro-criador...
Eu dizia, até dia 13/10/2011, que eu não conhecia essa dor, eu não tinha perdido alguém próximo, pois meus pais ainda estão aí.
Eu perdi meu melhor amigo. Não sabia que doía tanto. Não para de doer. Não paro de chorar.
É um buraco tão enorme.
Eu sei que não é isso que se deve escrever, nessa hora, a gente tem que buscar algo positivo em algum lugar, mas eu não encontrei ainda.
Só percebo a perda.
Quando penso que vou visitar a Paula amanhã, penso que vou entrar naquela casa, tudo turva.
É uma atitude egoísta, imagino, mas a dor é pelo que perdi, a possibilidade de continuar a conviver com uma pessoa tão especial.
Não conheço ninguém que chegue perto do que me foi o Murilo.
É uma mistura de admiração pelo realizador que ele era, com um pedaço de orgulho: “e tudo indica que esse cara gosta de mim.”
Era uma coisa infantil, aquela coisa de querer contar orgulhosamente pros outros: “eu sou amigo dele”.
É como se eu pudesse dizer que fui amigo do Leonardo da Vinci. E não sei se o Leonardo era tão legal quanto o Murilo.
Ter sido amigo do Murilo é uma das coisas mais importantes que aconteceram na minha vida.
Nossa viagem para pescar peixes de pedra no Araripe, nossa viagem para Tiradentes, nossas idas para Visconde de Mauá, que maravilha foi viajar com ele. Que inveja eu senti dos que puderam acompanhá-lo nas viagens mais recentes. É que nas viagens esse caráter polímata dele exuberava.
Mas como disse a Anginha, também no cotidiano era um esplendor: qualquer visita à casa de Murilo e Paula era a certeza de ter um momento brilhante. Parece exagero, mas não é.
Ele só me fez uma sacanagem na vida: ir embora tão cedo. Isso eu não tou aceitando.
Na sexta feira eu senti vontade de participar de alguma coisa musical para partilhar com ele, com a memória dele.
Precisaria ser uma percussão muito basal, primal.
Bem, é preciso buscar um jeito de dar a volta por cima: é considerar a minha sorte de tê-lo conhecido.
É, preciso agradecer ao Viola por organizar as festas em que eu e ele, deslocados no meio dos dançarinos, nos encontramos.
Que puta sorte. Disse Anginha: Estar ao seu lado me fez ser uma pessoa melhor.
E então, como homenageá-lo?
O desafio que ele me deixa é tentar “imitá-lo”, ainda que dentro das minhas limitações.
Ser mais amplo, como ele. Em cada coisa que eu fizer que vá além do que eu acho que sei fazer, haverá uma homenagem a ele.
É meio religioso isso, mas não terá sido assim que começaram as religiões? Com a vontade de homenagear alguém especial, que nem Buda ou Jesus devem ter sido?
Tudo bem, não vamos fundar o Murilismo, ele iria achar ridículo ( O Murilo achava alguma coisa “ridícula”? parece-me que não...), mas confesso que ele me deixou ensinamentos. E não foram poucos. Com aquelas frases de efeito, muitas vezes havia enormes verdades.
Lembro-me da última. Ele disse algo como “na academia, só os autoritários publicam”. Não foi bem isso, mas havia um conceito de que muitos de nós, acadêmicos, deixamos nossas incertezas justificarem nossa preguiça. Já os autoritários, os donos da verdade, esses não tem esse tipo de problema. Portanto, vençamos a preguiça!
Ou então a frase que, nascida num tombo qualquer do Martim, vejo verdadeira em tantas ocasiões: “O que dói é a vergonha”.
Ou então a frase que nunca entendi “O barroco é a constatação”.
Ufa, com essas batatadas, que ele se deliciaria em contrariar, eu quase consigo parar de chorar.
Amigos, que saudade eu já sinto.
Fernando
PS.: demorei 2h e cinco idas ao lavabo escrever esse email.

AhMurilo

Amigos,

dia 13 de outubro o mundo acordou mais burro e sem graça.

Murilo se foi...

Agradeço o privilégio que a vida me deu do convívio estreito com essa figura ímpar, meu irmão mais velho de coração.

“Bora fazer um cafezinho?”, era assim que chegava lá em casa nas suas subidas diárias que encheram de alegria e sabedoria a nossa existência.

Murilo foi a pessoa mais inteligente e culta que eu já conheci. Estar ao seu lado me fez ser uma pessoa melhor. Seu profundo conhecimento sobre absolutamente tudo era um deleite aos nossos ouvidos, pois seu discurso não era o da prepotência acadêmica e sim, do bom prosador espirituoso como ele só, com sua generosidade intelectual. Era um ser bio-geo-zoo-geolo-arquio-histo-poli-meteo-socio-lingui-astro-artista-editor-arqui-enge-intele-velejador-remador-construtor- jardineiro-criador... Compreendia as coisas da terra, as coisas da água, as coisas do ar, as coisas do céu e as coisas dos homens, e mais que isso, fazia a ligação entre todas elas. Seu mundo era amplo, seu interior maior ainda.

De forma intensa tudo que fazia, fazia muito bem feito, basta olhar para seus livros, bonsaïs, barcos, quadros, desenhos, esculturas, o berço absolutamente divino que fez para os que estão chegando, suas modas únicas como as havaianas com a sola cheia de furos para arejar os pés, sua poltrona de rei com rodinhas e suporte para o mouse... em tudo ele era especial e diferente. Tinha o dom da concretude da vida.

Ao lado de minha irmã querida, companheira indispensável, construiu uma casa rica de objetos repletos de significados, livros, histórias e principalmente amigos. Com a leveza dos sábios encarou os percalços da vida sempre com bom humor e doçura. Foram pai e mãe de toda uma geração de adolescentes que encontraram acolhimento nessa casa generosa onde a porta estava sempre aberta.

Todos os nossos projetos tem um “piteco” de Murilo. Ele era nosso assessor de todas as horas: dos assuntos científicos aos aleatórios. Vibrava e torcia por nós incondicionalmente. Sua visão perspicaz sobre a vida, as pessoas e as relações humanas se tornaram traduções indispensáveis nas nossas vidas.

Murilo amava as pessoas e as pessoas amavam Murilo, a ponto de declarar sua máxima: antes mal acompanhado do que só! Por onde ia deixava laços, nunca passava despercebido.

Mas esse homem de tantos talentos, aquilo que podemos denominar de gênio, tinha uma virtude maior: a generosidade. Murilo era cabeça, mão, mas antes de tudo coração.

Para um olhar mais desatento, Murilo poderia passar por aquele macho nordestino, o lorde da casa grande, sujeito “pidão” que não podia nunca ser contrariado, fazendo tudo que lhe dava na telha na hora que queria. Mas para aqueles que desfrutaram de seu convívio, Murilo era um bom!, uma pessoa que estava sempre preocupada com o bem estar das pessoas ao seu redor. Era capaz de atitudes das mais nobres, elegantes e generosas. São várias as histórias a serem contadas.

Para Murilo a vida não podia ser cruel, era preciso amenizar os golpes que ela nos pregava.

Para ele a vida era bem mais valiosa e grande que as transações comerciais-financeiras-pequeno-burguêsas do dia-a-dia.

É esse tremendo brincalhão que adorava implicar comigo, pregar as mentiras mais escabrosas, sentado em volta da mesa animando a conversa com suas frases de efeito e sua prosa entusiasmada, sempre pedindo um café com leite para a sua companheira inseparável, com um coração do tamanho do universo que eu quero trazer para sempre dentro de mim de forma que esse Murilo assimilado ninguém mais roube de nós.

Beijos saudosos

Anginha