terça-feira, 6 de dezembro de 2011

AhMurilo

Amigos,

dia 13 de outubro o mundo acordou mais burro e sem graça.

Murilo se foi...

Agradeço o privilégio que a vida me deu do convívio estreito com essa figura ímpar, meu irmão mais velho de coração.

“Bora fazer um cafezinho?”, era assim que chegava lá em casa nas suas subidas diárias que encheram de alegria e sabedoria a nossa existência.

Murilo foi a pessoa mais inteligente e culta que eu já conheci. Estar ao seu lado me fez ser uma pessoa melhor. Seu profundo conhecimento sobre absolutamente tudo era um deleite aos nossos ouvidos, pois seu discurso não era o da prepotência acadêmica e sim, do bom prosador espirituoso como ele só, com sua generosidade intelectual. Era um ser bio-geo-zoo-geolo-arquio-histo-poli-meteo-socio-lingui-astro-artista-editor-arqui-enge-intele-velejador-remador-construtor- jardineiro-criador... Compreendia as coisas da terra, as coisas da água, as coisas do ar, as coisas do céu e as coisas dos homens, e mais que isso, fazia a ligação entre todas elas. Seu mundo era amplo, seu interior maior ainda.

De forma intensa tudo que fazia, fazia muito bem feito, basta olhar para seus livros, bonsaïs, barcos, quadros, desenhos, esculturas, o berço absolutamente divino que fez para os que estão chegando, suas modas únicas como as havaianas com a sola cheia de furos para arejar os pés, sua poltrona de rei com rodinhas e suporte para o mouse... em tudo ele era especial e diferente. Tinha o dom da concretude da vida.

Ao lado de minha irmã querida, companheira indispensável, construiu uma casa rica de objetos repletos de significados, livros, histórias e principalmente amigos. Com a leveza dos sábios encarou os percalços da vida sempre com bom humor e doçura. Foram pai e mãe de toda uma geração de adolescentes que encontraram acolhimento nessa casa generosa onde a porta estava sempre aberta.

Todos os nossos projetos tem um “piteco” de Murilo. Ele era nosso assessor de todas as horas: dos assuntos científicos aos aleatórios. Vibrava e torcia por nós incondicionalmente. Sua visão perspicaz sobre a vida, as pessoas e as relações humanas se tornaram traduções indispensáveis nas nossas vidas.

Murilo amava as pessoas e as pessoas amavam Murilo, a ponto de declarar sua máxima: antes mal acompanhado do que só! Por onde ia deixava laços, nunca passava despercebido.

Mas esse homem de tantos talentos, aquilo que podemos denominar de gênio, tinha uma virtude maior: a generosidade. Murilo era cabeça, mão, mas antes de tudo coração.

Para um olhar mais desatento, Murilo poderia passar por aquele macho nordestino, o lorde da casa grande, sujeito “pidão” que não podia nunca ser contrariado, fazendo tudo que lhe dava na telha na hora que queria. Mas para aqueles que desfrutaram de seu convívio, Murilo era um bom!, uma pessoa que estava sempre preocupada com o bem estar das pessoas ao seu redor. Era capaz de atitudes das mais nobres, elegantes e generosas. São várias as histórias a serem contadas.

Para Murilo a vida não podia ser cruel, era preciso amenizar os golpes que ela nos pregava.

Para ele a vida era bem mais valiosa e grande que as transações comerciais-financeiras-pequeno-burguêsas do dia-a-dia.

É esse tremendo brincalhão que adorava implicar comigo, pregar as mentiras mais escabrosas, sentado em volta da mesa animando a conversa com suas frases de efeito e sua prosa entusiasmada, sempre pedindo um café com leite para a sua companheira inseparável, com um coração do tamanho do universo que eu quero trazer para sempre dentro de mim de forma que esse Murilo assimilado ninguém mais roube de nós.

Beijos saudosos

Anginha

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